Esse fim de século e de milênio é uma época de grande audácia no domínio das curas, nos garantindo uma fusão espantosa de terapias, muitas das quais podemos achar graça. Porém é mais sensato considerarmos algumas dessas terapias com interesse.

Esta multiplicação de práticas simplesmente responde à diversidade da demanda, assim como a particularidade de cada terapeuta.

O verdadeiro praticante sabe que precisará criar uma terapia própria para cada terapeuta e a cada encontro terapêutico; a diferenciação que se fazia, durante muito tempo, espontânea e silenciosa, se sistematiza agora, se inscreve em um quadro estruturado.

Existem causas históricas para a eclosão dessas novas práticas. A sociedade evolui cada vez mais rapidamente, abrindo novos campos aos terapeutas. Quando foi preciso reagir a todas as descobertas recentes na medicina, em técnica e organização, na metade do século XIX, no tempo de Claude Bernard, foi pela psique, pelo discurso e pelos processos intra-psíquicos, como fizeram CHARCOT, FREUD ou JANET. A época não era ainda do uso do corpo. Mesmo FERENCZI e REICH ainda resistiram e só reconhecerem 50 anos mais tarde, entre duas guerras.

O trabalho em grupo nascia, a aproximação franca e aberta do corpo deram-se após a derrota do totalitarismo.

Mas agora, a grande liberação deste fim de milênio, é a possibilidade que o homem tem de explorar todas as suas potencialidades.

Enquanto isso, o inconveniente desta geração quase espontânea, reside na denominação, muitas vezes incoerente das terapias. Uma classificação metódica e segura das bases científicas ajudaria provavelmente a situar cada etapa em razão aos critérios objetivos, respeitando o toque inventivo pessoal.

É nesse estado de espírito que desde 1989, a somatoterapia tenta se situar.

A ciência do corpo em terapia, que nós podemos chamar somatologia, é a ciência do corpo qualitativa, assim o corpo em terapia não é somente anatômica, biológica e psicológica, ele é dotado de uma qualidade suplementar: a vivência.

O nosso corpo vivencia experiências qualitativas e singulares: cada pessoa vive o novo e original a cada instante.

A somatologia é a ciência desse corpo às vezes anatomo-bio-psicológico e vivido em situações.

Como a psicanálise, há cem anos dava acesso à palavra, as somatoterapias abrem hoje o acesso ao corpo para lhe dar a palavra.

A somatoterapia é, com a psicoterapia e a socioterapia, uma das três grandes categorias de terapia. Enquanto que a psicoterapia se pende mais precisamente sobre os processos psíquicos individuais e a socioterapia estuda a dinâmica relacional, a somatoterapia trabalha sobre o funcionamento e a vivência corporal.

A somatoterapia reúne em um só termo todas as terapias corporais e as situa no seu verdadeiro lugar.Ela não se interessa pelo corpo plástico, mas transfere toda sua atenção sobre a reatividade do corpo às estimulações psíquicas, as obrigações da vida social e profissional e a vida afetiva.

Esse conceito é destinado a introduzir o rigor metodológico e uma nova exigência teórica.